segunda-feira, 11 de setembro de 2017

JBS PRESSIONA: PRISÕES SÃO
RISCOS   MENORES   DO   QUE 
ENGAVETAR   INVESTIGAÇÕES
Entenda quais são os próximos passos da negociação que pode afetar os maiores indícios já levantados na Operação Lava Jato contra Michel Temer e políticos...

PATRÍCIA FAERMANN no JORNAL/GGN
Foi desenhada uma nova estratégia de defesa dos irmãos Batista e executivos da J&F: romper, ainda que aparentemente, com a relação amigável que caracterizou as negociações para o acordo de delação premiada, iniciando enfrentamentos com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
 
Ainda que são grandes as chances desse confronto serem parte de simulações para os próximos passos do acordo já fechado e agora sob revisão, os donos da JBS e funcionários da J&F receberam a ameaça de um fim dos benefícios alcançados no acordo com a prisão neste domingo (10) de Joesley Batista e Ricardo Saud.
 
Neste cenário, o atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixou a épica denúncia do atual presidente da República Michel Temer como um feito histórico para concluir o seu mandato. Carregada de acusações dos empresários da J&F, para a empreitada, Janot defendeu a legalidade do acordo - combatida pela defesa de Temer - até o último minuto. 
 
Conscientes do peso das informações que os empresários tinham a entregar com os depoimentos, arquivos e revelações, e dos cuidados já tomados para não se colocar a perder tais provas não somente pelo procurador-geral, como também pelos investigadores da força-tarefa da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo também o ministro relator Edson Fachin, a J&F decidiu fazer uma reviravolta na atuação da defesa.
 
Ao passo que pretendem reconquistar pelo menos parte dos benefícios aos delatores, o grupo passou a confrontar as medidas tomadas pelo procurador-geral Rodrigo Janot com dois caminhos: um, na contratação do combativo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que publicamente se posiciona contra Janot na defesa de outros réus da Lava Jato; e liberando cartas na maga, outras informações que poderiam endossar a Lava Jato.
 
A prisão de Saud e Joesley Batista, neste domingo, foi marcada por cenários atípicos: a entrega espontânea dos executivos à Polícia Federal, a fim de evitar uma imagem ainda mais negativa contra os delatores da JBS e do grupo J&F; e o encontro informal deflagrado entre Pierpaolo Bottini, um dos advogados dos empresários, e Rodrigo Janot em um boteco em Brasília.
 
Bottini foi quem assinou a petição protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF), colocando os passaportes de Joesley e Ricardo Saud à disposição da Justiça. No domingo, imediatamente após os investigados se entregarem espontaneamente à Polícia Federal, o novo advogado Kakay emite comunicado à impresa.
 
No texto, o advogado confirma os riscos adotados por Janot e pela Lava Jato, incluindo o STF, com a prisão e um possível fim do acordo de delação premiada: "Não pode o Dr. Janot agir com falta de lealdade e, insinuar que o acordo de delação foi descumprido. (...) Este é mais um elemento forte que levara a descrença e a falta de credibilidade do instituto da delação."
 
E expôs as consequências com a detenção provisória de dois dos maiores delatores do grupo: "Sempre ressalto a importância deste instituto, mas é necessário que seja revisto o seu uso. A proposta de quebra unilateral, sem motivo, por parte do Estado, no caso representado pelo Procurador Geral, gera uma insegurança geral para todos os delatores."
 
A resposta de Kakay foi uma cobrança pública de que Rodrigo Janot e os procuradores que comandam as investigações no âmbito do Supremo se comprometam com a moeda de troca da Justiça no instituto de delação premiada para que eles possam seguir colaborando. Caso contrário, a ameaça da prisão dos empresários é risco menor em comparação ao engavetamento de incontáveis acusações. 
 
Mais uma amostra do que eles têm a entregar, caso a Justiça e a PGR de Rodrigo Janot não queiram encerrar os indícios levantados, Joesley Batista admitiu ter ainda outras gravações e materiais inéditos guardados no exterior. O Painel da Folha trouxe a condição explícita: "o dono da JBS avisa agora que só repassará o material à PGR se o acordo da J&F não for rescindido". Do lado ético e judicial, os advogados tratam de sustentar que não houve omissão de provas, porque as investigações estavam em andamentos e o ministro Edson Fachin havia concedido mais 60 dias para os delatores anexarem informações aos processos.

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