segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Delmiro seria hoje  preso por avanços sociais  no sertão alagoano 
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DELMIRO Augusto da Cruz GOUVEIA(1863-1917)

AMgóes  >>> À luz da empedernida CNI-Confederação Nacional da Indústria,  Delmiro Gouveia seria execrado e preso pela 'Lava Jato', se vivesse agora e instaurasse o regime de avanços sociais vigorante no parque operário que fundou no sertão alagoano,  no começo do século passado.

Delmiro, um cearense visionário que fez fortuna como mascate de couros no porto de Recife e idealizou imponente mercado-modelo no Derbby, bairro da capital pernambucana, potencial embrião dos atuais shoppings centers, mas foi torpedeado por injunções político-empresariais, direcionando sua perspectiva de negócios,  após o incêndio criminoso de seu empreendimento, para o inóspito sertão alagoano, nas redondezas do rio São Francisco, cujo potencial econômico mensurara em  recorrentes contatos com a região.

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A Vila da Pedra(Cia. Fabril Mercantil, na foto), na localidade que hoje detém o seu nome, a poucos quilômetros da Cachoeira de Paulo Afonso, foi um marco revolucionário no começo do século XX. Com efeito, Delmiro imprimiu em sua fábrica de fiação e tecelagem, inusitadas relações de trabalho e produção, bem à frente do observado à época em vários pontos do país.

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Fábrica das linhas 'Estrela', de Delmiro Gouveia
O grupo 'Machine Cotton', da Escócia, detentor do monopólio internacional das linhas 'Corrente', foi duramente atingido pela concorrente alagoana da marca 'Estrela', de Delmiro. Até então, o algodão era 'comoditty'  brasileira monopolizada, na bacia das almas, pelo mercado  de manufaturas europeias.

Gouveia foi assassinado cem anos atrás, em 10 de outubro de 1917, a mando dos desafetos do Reino Unido, que tentaram sem sucesso dissuadi-lo do negócio através de ofertas para a compra do empreendimento fabril afinal desmontado,com a maquinaria criminosamente atirada no penhasco do rio São Francisco.

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Base dos geradores de eletricidade
 no penhasco de Paulo Afonso
Aproveitando, por conta própria, o potencial energético de Paulo Afonso, construiu uma hidrelética que atendia à região de seu entorno, bem antes até de algumas cidades europeias.  As casas da vila operária de sua fábrica eram dotadas, além da eletricidade, do serviço de esgotamento sanitário. Seus empregados exerciam jornada de trabalho de 8 horas, com fim de semana remunerado. Crianças e adultos foram escolarizados e havia aula noturna para os empregados. O complexo habitacional dos trabalhadores obedecia a uma arquitetura simples mas dotada de ampla salubridade. Delmiro, com avançada visão socio-empresarial, erradicou  doenças infecto-contagiosas responsáveis pela queda de produtividade em sua empresa. 

Delmiro, hoje, às turras
com o golpe e a CNI

Nenhuma novidade: a Confederação Nacional da Indústria apoia a portaria 1129/17, do Ministério do Trabalho golpista de Temer que, sob a falácia de 'flexibilizar' as relações laborais, inviabiliza os avanços na luta contra o trabalho escravo no país.

"A portaria representa importante avanço na definição de um conceito mais claro sobre trabalho escravo. Propicia mais segurança jurídica, evitando que empresas sejam acusadas em função de posições subjetivas e até ideológicas dos fiscais(do Trabalho)", diz a CNI.

Segundo Fernando Brito, no TIJOLAÇO, "o Brasil fracassou em produzir uma elite empresarial moderna, processo ensaiado a partir de 1940. Os anos 1990 mudaram o discurso e 'empregado' agora é 'colaborador'. (...) Nossa classe dominante é a vanguarda do atraso."

Com a recém-aprovada contrarreforma golpista e a 'flexibilização' do expediente diário em até 12 horas, o trabalhador terá limitado seu cotidiano, fora da empresa, ao tempo de dormir e acordar para a jornada do dia seguinte.

Arrojado empreendedor, entre fim do século XIX e começo do XX, Delmiro Gouveia seria hoje sumariamente  condenado a décadas de prisão por implementar 'inadmissíveis excrescências' sociais no sertão alagoano, tido talvez como um 'perigoso comunista' travestido de empresário.

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