POR QUE A MÍDIA ESCONDE A TRAGÉDIA DO REITOR DA UFSC? PORQUE É CÚMPLICE DE SUA MORTE
KIKO NOGUEIRA, no DCM
Quanto tempo o Jornal Nacional desta terça, 3, dedicou à tragédia do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier? Zero. Repito: zero. A repercussão do suicídio foi escondida na mídia. A razão é uma só: ela é cúmplice. ||| O estado policialesco em que vivemos é resultado de anos de doutrinação e emburrecimento iniciados com o mensalão e com a indignação coletiva que frutificou. ||| As capas canalhas da Veja, os jograis de William Bonner, o vômito de ódio de colunistas deseducaram e deram subsídio para milhares de cretinos que evoluíram para o fascismo sem medo de ser felizes. ||| Temos um juiz absoluta e desavergonhadamente parcial como herói. No nosso novo normal, ele vai a premieres de filmes em que ele mesmo é protagonista e tudo bem. A cobertura é do Oscar. ||| Procuradores são convidados de honra de jantares de artistas da Globo. Bolsonaro fala em fuzilar organizadores de exposições. Deputados flagrados vendo pornografia em plenário querem espancar artistas “tarados”. ||| Desse caldo sai uma delegada, Érika Malik Marena, ex-Lava Jato, que submete um professor ao que ele chamou de “humilhação e vexame”. “Você fica nu diante de uma série de pessoas. Você fica exposto. Fica numa condição de subjugação completa”, disse ele, num depoimento comovente. Érika queria mantê-lo preso. Queixou-se da juíza que o liberou. ||| O ex-senador e advogado Nelson Wedekin fez um belo discurso na solenidade fúnebre do Conselho da Universidade em tributo a Cancellier. Wedekin lembrou de “uma imprensa que primeiro atira e só depois pergunta quem vem lá, quando e se pergunta. Uma imprensa que toma como verdadeira, em princípio, a palavra da autoridade, não mediada, não contextualiza”. Continuou: “De blogueiros, ativistas e pessoas ‘comuns’ que, raivosos, expelem argumentos chulos, pensamentos prontos, clichês preconceituosos, manifestações de atraso, ignorância, e ódio, muito ódio nas redes sociais Mãos de quem confunde moral com moralismo de baixo custo, que a todos rotula, por método, costume e um certo prazer sádico”. ||| Fomos da terra da impunidade ao paraíso dos justiceiros sem escalas. ||| Em Santa Catarina, o clima é de comoção. Mas esse sentimento deveria ser nacional. Deveria servir para um basta. Deveríamos estar na rua. Mas não. Outros virão. Criaram uma sociedade doente. Como na brilhante tira de Laerte, amanhã a cadela do fascismo morderá a mão de quem a alimentou. E então vai sair no Jornal Nacional, mas será tarde demais.
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