quarta-feira, 11 de outubro de 2017

GRAMPO DE CACIQUES DO PMDB, USADO EM DENÚNCIAS POR JANOT, FOI ARQUIVADO

Conversa entre peemedebistas que se tornou um dos marcos dos grampos na Lava Jato foi usada pelo ex-PGR em diversas peças acusatórias. Quando deixou de ser necessária, tornou-se insuficiente para uma denúncia...


PATRÍCIA FAERMANN, no JORNAL/GGN

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, atendeu ao pedido do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e arquivou o inquérito contra o senador Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), José Sarney (PMDB-AP) o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, por obstrução à Operação Lava Jato.  |||  Conforme o GGN divulgou, outras peças do ex-procurador-geral da República usavam trechos do diálogo grampeado entre Machado e os caciques peemedebistas para indicar que o impeachment de Dilma Rousseff foi parte das negociações de obstrução dos políticos aos avanços das investigações.  |||  Foi o caso das denúncias contra Michel Temer, enviada à Câmara, e a denúncia contra Aécio Neves, enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Nas peças, Janot recorreu da chamada "estancar a sangria" para descrever ações de parlamentares e da cúpula do governo Temer para impedir as investigações da Operação, ocasionando o impeachment de Dilma.  |||  No inquérito contra Aécio [leia aqui], Janot sustentava que o diálogo do senador com Jucá, mencionando que era preciso tomar alguma medida, porque seria "agora ou nunca", era continuidade da conversa do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, de articulação dos parlamentares de ex-oposição para o impeachment e obstruir a Justiça.  ||| Em seguida, nas peças contra o atual presidente da República [leia aqui], Janot também enfatizava a conexão da mesma conversa com as intenções de Temer de impedir os avanços da Lava Jato. Sem mencionar diretamente a frase de Jucá que se tornou célebre, o ex-PGR usou a lógica:
"Em diálogo captado, Romero Jucá e Sérgio Machado aduzem essa solução: 'SERGIO - Saiu na imprensa e... mais inteligente ela sair de licença. Passar o poder para o MICHEL. Ela tinha que garantir o que? Tinha que garantir que ela ficaria protegida. ROMERO - É, também acho... SERGIO - e se pode ser protegido pelo MICHEL. Então você tem a saída da renúncia que é melhor.., mas ela deixaria... acho que a licença... ROMERO - A licença é a mais suave, né? SERGIO - É má suave e ela continua presidente. - ROMERO - Negocia proteção ao Lula. SERGIO - Ela, ela sairia e continuaria presidente...(..) SERGIO - Tem que ter um... ROMERO - Eu acho que tem um, um pacto - SERGIO - Um pacto (..) o que for melhor pra segurança dela. Pede licença. Continua presidente. ROMERO - Num perde o forum."  |||  Depois de citar parte do diálogo, Janot admitiu que o processo de afastamento da ex-presidente foi parte da estratégia de obstrução dos opositores: "Como não lograram êxito em suas tratativas, em 29.03.2016, o PMDB decidiu deixar formalmente a base do governo e, em 17.04.2016, o pedido de abertura de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados."  |||  Entretanto, contrariando todas as acusações contra Aécio e Temer, Janot pediu o arquivamento do inquérito que investigava a cúpula peemedebista. O motivo foi a recomendação da Polícia Federal. A delegada responsável pelo pedido foi Graziela Machado da Costa e Silva que, conforme o GGN revelou em outra reportagem, cometeu uma série de erros que favoreceram peemedebistas na Operação Lava Jato [leia aqui]|||  A delegada colocou em risco toda a apuração após constatar que a delação de Sérgio Machado apresentava irregularidades. "Tem-se no caso presente que as conversas estabelecidas entre Sérgio Machado e seus interlocutores, limitaram-se à esfera pré-executória, ou seja, não passaram de meras cogitações (...) É preciso mais. Concluo que, no que concerne ao objeto deste inquérito, a colaboração que embasou o presente pedido de instrução mostrou-se ineficaz", havia entendido.  |||  O documento assinado pela delegada Graziela foi remetido a Janot, que também não quis dar sequência às investigações, ainda que tenha usado o grampo em outros inquéritos e denúncias. Assim, o ex-procurador-geral da República pediu o arquivamento, autorizado por Fachin nesta semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário