domingo, 16 de setembro de 2018

Entre  facadas
E  fraquejadas

 

FERNANDO HORTA, no JORNAL/GGN

Jair Bolsonaro, apelidado de “o coiso”, é responsável pela maior rejeição da História brasileira entre as mulheres. Nem mesmo o vice-golpista, cuja esposa é “bela, recatada e do lar”, tira do ex-capitão o título de “besouro rola-bosta 2018”. Depois da imensa manifestação das mulheres com a hashtag “#eleNão”, hackers apoiadores do fascismo passaram a atacar a comunidade, que já chegava a impressionantes 2,3 milhões de mulheres. Até a noite deste domingo(16), eram contados cerca de cinco ataques cibernéticos, o que já motivava DELEGADAS da polícia civil a organizarem um grupo de investigação de crimes virtuais para encontrar e punir os responsáveis.
Enquanto os fascistas se escondem no anonimato, suas ações incendeiam ainda mais a repulsa e ojeriza ao ex-capitão acusado de terrorismo quando ainda era   militar. Como abelhas quando atacadas, as mulheres da comunidade zuniam de indignação e percebiam – ao menos com as quais falei – que era chegada a hora de saírem das redes e irem para as ruas, em atos nacionais. Uma das participantes me disse “vamos ver eles hackearem o c% de raiva quando colocarmos um milhão de mulheres na Paulista e mais dois milhões pelo Brasil inteiro”.
Temos nomes poéticos para movimentos assim na História, como a 'Primavera dos Povos', em 1848, ou as “Revoluções Coloridas” no século XXI. Não me atrevo a nomear o movimento das brasileiras, mas imagino que suas ações, em 2018, entrarão para a História.
Quanto ao “coiso”, o sentimento dele é apenas frustração. Afastado do exército em situação, no mínimo, estranha. Com inúmeros relatórios internos chamando à atenção para a baixa inteligência, a soberba, o pedantismo e a incapacidade de obedecer ordens e seguir linhas de comando, o ex-capitão escolhe para 'vice' um militar orgânico. General. Nunca um general vai se submeter ao um capitão. A quebra de hierarquia é simplesmente inaceitável. E o fascista talvez seja expulso da própria chapa. Mourão, ainda que esteja entre os generais menos capazes intelectualmente, tem contatos e uma imensa rede de apoiadores nas mais diversas funções.
Me atrevo a dizer que o silêncio sobre o atentado ao fascista trará, em alguns anos, a descoberta de  que a faca era verde-oliva. Temporariamente fora da disputa eleitoral, Bolsonaro não se afunda nas próprias asneiras e imbecilidades. Seu carisma aumenta usando a bata branca que descobre a bunda. A situação é “perfeita” para a tomada militar. Se Jair morre, aposta-se numa comoção nacional e Mourão se imagina “nos braços do povo” apoiado por tanques e coturnos a trilhar o caminho até a presidência. Se Jair não morre, ficará fora tempo suficiente para que Mourão – assim ele pensa – possa “dar direção correta” para a chapa eleitoral. É claro que o general se acha superior – em todos os quesitos – ao “saliente” ex-capitão. A vaidade de Mourão é seu túmulo, mas talvez ele leve o ex-capitão consigo.
Não me surpreenderia se nos ataques de hackers à comunidade de mulheres não esteja a nata da “inteligência” do Exército. Incapazes de defender o Brasil da guerra híbrida, talvez se sintam úteis atacando movimentos democráticos, livres e de mulheres que denunciam suas ideias retrógradas e antinacionais. É comum na hierarquia militar passar o recalque adiante. O general escracha o coronel, que escracha o major, que faz o mesmo com o capitão e assim vai até o pobre soldado que não tem ninguém para escrachar abaixo dele. Essa longa cadeia de recalque pode terminar em movimentos sociais e democráticos, por que não?
A verdade é que Bolsonaro falhou miseravelmente em tudo o que tentou na vida. Viveu por um código militar que o expulsou. Escondeu-se nas sombras da Câmara por anos, no meio do baixo claro, a bostejar idiotias e disparates, acreditando no ressurgimento do fascismo. E quando finalmente ele parecia estar conseguindo algo na vida, fraquejou. Convidou um general para vice de sua chapa e terminou esfaqueado e sendo chamado de “vitimista” pelo próprio colega que pede ao TSE para substituir Bolsonaro “em tudo”, sem sequer consultar os filhos do ex-capitão.
É verdade que a consulta pouco adiantaria, pois a prole é tão mentecapta quanto a figura original. De certo Mourão, que se acha superior ao titular, nem se importou em conversar com as figuras-filho que vivem dando atestado de incapacidade nas redes sociais. O que impressiona, contudo, é a traição. Deve ser terrível sentir o vento na bunda, dores abdominais absurdas e ficar pensando que tudo isto pode ter sido causado pelas mesmas pessoas para as quais o ex-capitão hipotecou sua vida. O brado “Brasil acima de tudo” enfim mostra que pode ser mais amplo do que o fascista jamais pensou. Um governo de general é muito melhor que um de ex-capitão, aos olhos das nossas “fofas amadas”, tomando emprestada a expressão do professor Antonio Celso Ferreira.
O problema dos falsos e dos traidores é que nunca sabem em quem podem confiar. Nunca sabem onde e quando termina a canalhice.
Que as mulheres mostrem ao Brasil que coesão e confiança são a base do empoderamento político. E que transbordem-se das redes para as ruas, mostrando que todas são muito maiores do que cada uma.

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