Avalia o renomado cientista político Alberto Almeida...
PERDRO ZAMBARDA DE ARAÚJO, no DCM
O cientista político Alberto Carlos Almeida, autor dos livros “A Cabeça do Brasileiro” e “O Voto do Brasileiro”, virou uma figura conhecida das redes sociais. Ex-articulista do jornal VALOR/Econômico por uma década, posta provocações e pensatas curtas. “O grupo de mulheres contra Bolsonaro já atingiu 1 milhão de seguidoras. É a ponta do iceberg”, escreveu. \\\ O DCM entrevistou Almeida sobre as eleições, o atentado a Jair Bolsonaro, a nomeação de Haddad no lugar de Lula e as conclusões possíveis das últimas pesquisas.
-DCM: Nos próximos levantamentos Datafolha, você diz
que é possível que Fernando Haddad cresça e veja Ciro, Marina e Alckmin “no
retrovisor”. Em que baseia esse raciocínio?
-Alberto Carlos Almeida: Não vejo a opinião pública como sujeita ao fenômeno da “transferência
de votos” no sentido estrito de o eleitor esperar o que o líder vai dizer e
então seguir o líder. É um fenômeno mais complexo que exige uma narrativa. Em 2010 não houve transferência no sentido
estrito, mas sim uma narrativa. Lula disse para o eleitorado que aprovava o seu
governo que Dilma seria a continuidade dele. Isso se repete hoje. A narrativa
de Lula e do PT é a de que se você quiser ser feliz de novo, como foi nos
governos Lula, o melhor a fazer é votar no Haddad. Além disso, o PT tem 20% ou mais de
preferência partidária no Brasil, tem governadores de estado, senadores, enfim
uma máquina política formidável. É a soma disso tudo que fará Haddad crescer.
-Por
que a pesquisa do BTG Pactual apontou disparada de votos do Bolsonaro e no
Datafolha ele ficou na margem de erro, crescendo pouco em 2%?
-Pesquisas por
telefone, de um modo geral, superestimam o voto dos menos pobres e subestimam o
voto dos mais pobres. E disso que decorre a diferença. O voto no PT estará menor em uma pesquisa
telefônica e maior em uma pesquisa face a face, enquanto o inverso ocorre com o
voto em Bolsonaro e Alckmin, por exemplo.
-Alckmin vai perder mais espaço para Bolsonaro, na sua
avaliação?
-A minha previsão
inicial era de um segundo turno entre PT e PSDB. Não mudei a previsão, ainda.
Vou aguardar mais duas pesquisas do Datafolha. Caso Bolsonaro não caia ou suba nessas
pesquisas, é provável que modifique minha previsão.
-Em seus livros e análises, você fala dos
votos dos “azuis” e dos “vermelhos”, falando da polarização histórica PT e
PSDB. Os votos tucanos se converteram em votos bolsonaristas?
-O fato é que, do
lado dos ‘vermelhos’, o PT levará seu candidato para o segundo turno. Porém, há
a disputa Alckmin x Bolsonaro do lado dos ‘azuis’. O grande problema de Alckmin
é prosaico, ele saiu do governo de São Paulo com uma avaliação mediana. Caso tivesse saído com uma avaliação boa, o
eleitorado de seu estado não estaria dividindo o voto azul entre ele e
Bolsonaro. Isso quer dizer que sua mais importante dificuldade vem de sua
própria base eleitoral. Assim,
pode ser que em 2018 o PSDB venha a perder o monopólio do antipetismo no
Brasil. Falta pouco para que a gente saiba se isso de fato irá ocorrer.
-Por
que a rejeição de Bolsonaro cresceu de 39% para 43% no Datafolha, mesmo com a
facada em Minas Gerais?
-A rejeição dele
já vinha em uma trajetória de crescimento forte. O que ocorreu é que essa
trajetória não foi interrompida pela facada. Pode ter havido uma desaceleração,
até porque a rejeição dele já está muito elevada e pela lógica o seu aumento
irá desacelerar. De toda maneira,
Bolsonaro tem sido vítima de críticas muito fortes em relação a suas posturas
machistas, racistas, elitistas. É
isso que tem levado ao aumento de sua rejeição.
-Ciro Gomes é um destaque nas últimas
pesquisas. A força dele vem do Nordeste ou de votos de outras regiões?
-As candidaturas
de Ciro e Marina guardam uma semelhança importante. Elas não representam
ninguém, nenhum grupo relevante, nenhum setor empresarial, nenhum movimento
social relevante. São candidaturas de si próprios. Em função de nossa legislação permissiva, foram
capazes de se apropriar de siglas partidárias pequenas e viabilizarem espaço na
mídia para se colocarem como candidatos. Ambos estão em uma ‘egotrip’(‘viagem
do ego’). É provável que seja a
última egotrip dos dois. Eles tendem a ter uma votação final de menos de dois
dígitos, abaixo, portanto, de 10%.
-Por que Marina desidratou tanto e é uma
“doadora universal” de votos, nas suas palavras?
-Marina é uma
candidata sem identidade. Já escrevi isso em livro, candidatos sem identidade
têm pés de barro. É preciso uma identidade para ter sucesso eleitoral, ou se é
candidato de governo, ou de oposição, não dá para ser os dois ao mesmo tempo. Ou se é candidato de esquerda ou de direita,
não dá para ser os dois ao mesmo tempo. Como ela não tem identidade, quando
perde votos eles vão para todos os candidatos, os votos dela são do tipo
sanguíneo ‘O negativo’. Ela é ‘doadora’
universal de votos.
-O segundo turno ideal para Haddad é com Bolsonaro?
-Se Lula fosse o
candidato ninguém, nem mesmo seu mais radical opositor, estaria dizendo que
Lula seria derrotado. Pelo contrário, todos admitiriam que ele seria o vencedor
final, no primeiro ou segundo turno.
O favoritismo de Lula se transfere para Haddad. Ele é o único que pode
ser adjetivado como o favorito para ganhar, contra qualquer adversário que
seja. Porém, é sempre bom chamar atenção para o fato de que favoritos também
perdem. O adversário mais fácil
de derrotar em um segundo turno é Bolsonaro, sem sombra de dúvidas. O papel
mais importante do segundo turno é o de veto a candidatos muito rejeitados, que
é o caso de Bolsonaro. Alckmin
seria um adversário mais difícil para Haddad. É preciso considerar que, até
mesmo em função de seu perfil, Alckmin não desperta no eleitor grandes paixões,
seja de amor e vontade de votar nele, seja de ódio e rejeição.
-O
que é mais forte hoje? O ‘antipetismo’ ou o ‘antibolsonarismo’?
-O que há de mais
forte, hoje, basta ver os dados de rejeição das pesquisas, é o ‘antibolsonarismo’.
Não há dúvida quanto a isso.
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