Guru de Bolsonaro é apontado
como beneficiário de fraude multimilionária na Bolsa
Apresentado pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL) como
seu ministro da Fazenda no caso de eleição, o economista Paulo Guedes é citado
em um processo recém-julgado pela Justiça Federal como beneficiário de um
esquema fraudulento que provocou perdas milionárias na Bolsa de Valores à
Fapes, fundo de pensão dos funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES). As informações são da revista digital Crusoé,
que teve acesso aos autos e à sentença proferida em 3 de julho pelo juiz Tiago
Pereira, da 5ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. ||| Segundo a reportagem de
Filipe Coutinho, os documentos reunidos no processo apontam que a GPG
Participações, do economista e de seu irmão, faturou R$ 600 mil em apenas dois
dias de operação na Bolsa por meio de uma ação fraudulenta, conduzida pela
corretora Dimarco. No período investigado, o fundo de pensão, também sob a
batuta da corretora carioca, amargou prejuízo de R$ 12 milhões. Os clientes
citados como beneficiários do esquema, incluído aí Guedes, ganharam R$ 5
milhões. ||| No início de julho, Tiago
Pereira condenou três dirigentes da Dimarco a quatro anos e oito meses de
prisão por gestão fraudulenta. A corretora fechou as portas em 2008, mas já
havia sido autuada nesse caso pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Embora
não tenha sido processado, Paulo Guedes tem seu nome mencionado quatro vezes na
sentença. Já a sua empresa, a GPG, aparece 27 vezes, de acordo com a Crusoé.
||| De acordo com a reportagem, a corretora – como responsável pelas opções
de investimento do fundo de pensão e de outros clientes, como a empresa de
Paulo Guedes – jogava alto na Bolsa e, a depender dos resultados, escolhia quem
ganharia com suas apostas em 2004. Conforme as investigações, as operações eram
registradas manualmente, os lucros eram destinados a alguns poucos investidores
e os prejuízos ficavam sempre com a Fundação de Assistência e Previdência
Social do BNDES (Fape) e seus 3,4 mil associados à época. ||| “Como prova da
atribuição ilícita de contratos em favor de clientes escolhidos pelos réus, é a
constatação de que dois dos comitentes investigados, Franklin Delano Lehner e
GPG Participações LTDA, que apuraram ótimos resultados no mercado futuro de
Ibovespa quando operaram pela Dimarco, em pregões com a participação da Fapes,
tiveram, ao mesmo tempo, péssimos resultados quando realizaram transações
análogas em outras corretoras, o que demonstra que o sucesso de suas transações
não se poderia explicar, unicamente, por seu conhecimento e por sua capacidade
de mercado”, diz trecho da sentença do juiz Tiago Pereira. ||| Em outro trecho da
decisão, destaca a revista, o magistrado diz, sem citar nomes, que os clientes
também participaram das fraudes. “Os beneficiados nas transações espúrias,
sem dúvida alguma, participaram dolosamente do planejamento da ação criminosa e
locupletaram-se de seus resultados.”
Operações anotadas à
mão
Os primeiros indícios contra a
Dimarco surgiram após sucessivas auditorias da Bolsa de Valores de São Paulo
terem apontado “impressionante desorganização” da corretora. As operações eram
anotadas manualmente, num caderno, sem seguir regras básicas da Bolsa. Havia
documentos rasurados e solicitações de investimentos sem ordem cronológica
definida, relata a Crusoé. ||| A suspeita inicial evoluiu para a descoberta de uma fraude, de acordo com
a revista. Na prática, segundo a denúncia, a Fapes era usada para testar o
potencial de lucro das transações. Se a operação fosse lucrativa, as ordens
eram direcionadas para os escolhidos pela corretora. Quando havia prejuízo, as
perdas ficavam com o próprio fundo de pensão. ||| Antes da sentença
judicial, uma apuração da CVM já havia incluído Paulo Guedes como um dos
beneficiários das transações suspeitas. Mas a comissão concluiu que não era
possível confirmar, de “forma concreta”, a participação dele e de outros
investidores nas irregularidades. ||| Para o juiz Tiago Pereira, o processo administrativo poderia
ter sido mais rigoroso. “O conjunto de provas indiciárias reunido pela
acusação é tão contundente que realmente impressiona o excesso de cautela
adotada no processo administrativo sancionador”, aponta o magistrado em sua
decisão.
“Nunca causei
prejuízo”
Em entrevista à Crusoé, Paulo
Guedes disse que seus operadores tinham autonomia para distribuir as ordens de
investimento entre diversas corretoras e que é normal ter lucros e perdas
expressivas em diferentes corretoras. O economista afirmou que não tem relação
com a Dimarco e que desconhecia o processo em que é citado. ||| “Não tenho a menor ideia do que
se trata. Tenho certeza absoluta de que nunca agi em prejuízo de qualquer
contraparte em alguma operação de day-trade em empresas em que tenho
participação. Nunca causei nenhum prejuízo a ninguém que fosse contraparte. Quando
se faz operações de 'day-trade', não se sabe nem quem é a contraparte”,
declarou. Operações na modalidade 'day-trade' são aquelas de
curtíssimo prazo, que podem ser feitas em horas ou minutos. ||| Guedes afirmou que vai
buscar informações sobre o caso e o associou ao período eleitoral. “Se tem
30 dias que fui citado, vou tomar conhecimento de que citação é essa. Eu sei
que assim que comecei a ajudar numa campanha começaram a aparecer citações. E
vou lidar com elas, cada uma por vez”, declarou à revista digital. ||| A
reportagem tentou, de diversas maneiras, contato com Paulo Guedes. Até o
momento o economista não deu retorno ao nosso contato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário