O eleitor
também levou uma
facada e quem a deu foi
o
Judiciário
Cancelamento do título de eleitor de 3,3 milhões de brasileiros, metade deles no Norte e Nordeste (regiões que historicamente rendem mais votos ao PT), "influi" no resultado da eleição e cria um "paradoxo", diz o ministro Ricardo Lewandowski no julgamento da ADPF 541...
CÍNTIA ALVES, no JORNAL/GGN
Sete
ministros do Supremo Tribunal Federal tomaram na quarta-feira (26) uma decisão
que pode "influir" no resultado da já conturbada eleição presidencial
de 2018 e criar um "paradoxo" sem precedentes no País. Um atentado
contra a soberania do povo, que teve o direito constitucional ao voto alijado
por questões burocráticas. No
julgamento da ADPF 541, a maioria do Supremo decidiu manter o cancelamento,
pela Justiça Eleitoral, de 3.338.447 títulos eleitorais, o que equivale a 2,4%
do eleitorado nacional. ||| O
número é expressivo e exorbitante. Expressivo porque, a título de comparação,
na eleição de 2014, Dilma Rousseff venceu Aécio Neves por uma diferença de 3,5
milhões de votos, muito próximo dos 3,3 milhões de eleitores que foram
descartados pela Justiça Eleitoral neste ano. Exorbitante porque, nas últimas
eleições, a média de títulos cancelados foi 3 vezes menor do que o quadro
atual. ||| O
relator da Ação no Supremo foi o ministro Luis Roberto Barroso, que em seu voto
fez um grande esforço na tentativa de afastar a ideia de que o cancelamento dos
títulos prejudica o eleitorado do PT. Os números, por outro lado, contradizem o
magistrado. Do
total de títulos cancelados em 2018, 54% estão no Norte e Nordeste, regiões que
nas últimas 3 eleições presidenciais renderam ao PT uma média de 60% dos votos
válidos. Só na Bahia, 586 mil eleitores não poderão votar. ||| A
explicação do Tribunal Superior Eleitoral para cancelar esse volume de títulos
carece de transparência, tanto na imprensa quanto no julgamento. Os partidos que entraram contra a medida - PSB,
seguido por PT e PCdoB - criticam principalmente a questão da biometria como
exigência para votar, sendo sua ausência agora punida com a cassação de
eleitores. ||| O TSE, por sua vez, alega "motivos
diversos", não especificamemnte justificados, o que foi fruto
de biometria compulsória e o que foi, exemplificando, alijado face a indício de
fraudes ou cancelado por morte. O
dado interessa porque o "paradoxo", nas palavras de Ricardo
Lewandowski, é gritante. Enquanto 3,3 milhões de eleitores são prejudicados em
seu direito ao voto por "motivos diversos", outros 10 milhões já
fizeram a biometria e não precisarão utilizá-la nesta eleição. Aliás, metade do
eleitorado brasileiro também não tem biometria, pois a meta é encerrar esse
processo em 2022. ||| Não
é "legítima a exclusão de mais de 3 milhões de eleitores por razões
meramente burocráticas", disse Lewandowski, que abriu divergência e votou
a favor da ADPF, seguido apenas pelo ministro Marco Aurélio Melo. "O cancelamento de milhões de títulos
eleitorais, tal como noticiado na inicial, pode restringir drasticamente
princípio da soberania popular." ||| "A
grande maioria desses eleitores SE enquadra na categoria de hipossuficientes econômicos
e residem nos mais longínquos rincões do país", observou o ministro. Não há como deixar de constatar que o
crescimento do número de eleitores com títulos cancelados no período 2016-2018
elevou-se de forma desproporcional com relação aos períodos anteriores." ||| "O número de eleitores excluídos
das eleições equivale ao da integralidade de cidadãos votantes de diversos
países europeus. É como se, nessas nações, as autoridades públicas, decidissem
cassar os direitos políticos de toda a sua população apta a exercer o direito
ao sufrágio!" ||| Na opinião do ministro, "impressiona" que o TSE, diante desse número de títulos
alegadamente em situação irregular, tenha decidido sumariamente cancelá-los sem
que os eleitores serem sequer sido notificados antes, "de modo a garantir a ampla defesa que a
Constituição Federal a todos assegura.” A decisão do TSE, ratificada pelo
Supremo "fere um dos mais
importantes direitos fundamentais dos cidadãos, talvez o principal deles, que é
o direito de participar, por meio do voto, da vida pública." ||| O ministro votou para que a Justiça Eleitoral
garanta o voto de quem teve o título cancelado por falta de biometria, desde
que este eleitor compareça às urnas munido de documento com foto. Caso
contrário, que o sistema seja adaptado para receber este contingente no segundo
turno. "Como costuma dizer o Ministro Marco Aurélio, 'paga-se um preço
módico para viver-se numa Democracia'", concluiu o ministro. Seguramente, não é o que pensam outros 7 dos
ministros do Supremo.
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