O
Wikileaks revelou o informe enviado
ao Departamento de Estado norteamericano do seminário de cooperação, realizado
em outubro de 2009, com a presença de membros seletos da PF, Judiciário,
Ministério Público, e autoridades norteamericanas, no Rio de Janeiro. O
Wikileaks é um site especializado por vazar documentos internos do governo
americano.
O
seminário se chamava “ PROJETO PONTES: construindo pontes para a aplicação da lei no
Brasil ”, em que se tratava de consolidar treinamento bilateral de
aplicação das leis e habilidades práticas de contraterrorismo. Promotores e
juízes federais dos 26 estados brasileiros participaram do treinamento, além de
50 policiais federais de todo o país. A delegação tupiniquim era a maior dentre
os participantes, que contava com participantes do México, Costa Rica, Panamá,
Argentina, Uruguai e Paraguai.
O
memorando relata o "grande entusiasmo" com que os promotores e juízes
federais brasileiros se dissiparam dos temores que o termo
"contraterrorismo" desperta em amplos setores – nada mais nada menos
o novo discurso com que George W. Bush buscava revestir o direito inalienável
do imperialismo norteamericano como "polícia do mundo", depois da
queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria com a restauração capitalista na
ex-União Soviética, e que fundamentou intervenções militares em todo o Oriente
Médio na década de 2000 e a reacionária intervenção norteamericana para frear
as primaveras árabes de 2011.
Vê-se
perfeitamente a intimidade com que a casta jurídica brasileira trata os termos
do chefe imperial.
Vai
senão quando, e meio ao informe para o Departamento de Estado, entra relato de
ninguém menos que Sérgio Moro, que discorre sobre os "cinco pontos mais
comuns acerca da lavagem de dinheiro no Brasil". Sem detalhes particulares
sobre a exposição do chefe da "República de Curitiba", o informe
mostra que houve acalorados debates em que a equipe de treinamento ianque,
virtuosos na patifaria, ensina os pupilos brasileiros e estrangeiros os
segredos da "investigação e punição nos
casos de lavagem de dinheiro, incluindo a cooperação formal e informal entre os
países, confisco de bens, métodos para extrair provas, negociação de delações,
uso de exame como ferramenta, e sugestões de como lidar com Organizações Não
Governamentais (ONGs) suspeitas de serem usadas para financiamento ilícito ".
Na
seção “Resultados”, o informe da equipe lembra a harmonia que se estabelece
quando o tutor dedicado se depara com o aprendiz atento. Lê-se que “os
participantes requisitaram treinamento adicional, sobre a coleta de evidências,
entrevistas e interrogatório, habilidades usadas nos tribunais”. Este interesse
subserviente se explicaria pelo fato de que a democracia brasileira não
alcança 20 anos de idade. Assim, os juízes federais, promotores e advogados
brasileiros são iniciantes no processo democrático, não foram treinados em como
lidar com longos processos judiciais [...] e se encontram incapazes de utilizar
eficazmente o novo código criminal que foi alterado completamente.
Haveria
que verificar a opinião dos participantes sobre esta cortês acusação de
estupidez por parte dos chefes ianques. Se damos crédito ao informe, aos
juristas e promotores brasileiros pouco importava a desconsideração vinda do
norte, contanto que “consentissem em ensinar
as novas ferramentas, que estão ansiosos em aprender ”. Duas metades se
completavam. Como dizia o russo Tchernichevsky, um fósforo é frio, assim como o
lado de fora da caixa em que é riscado, mas juntos produzem o fogo que aquece a
humanidade. Essa é a síntese das relações entre os Estados Unidos e o Poder
Judiciário brasileiro.
E
para completar a trama atual se desenvolvendo em determinada passagem do
documento o informe pede para ministrar cursos mais aprofundados nos seguintes
locais: Curitiba, São Paulo e Campo Grande. É de estranhar agora os procedimentos
dá chamada “República de Curitiba”?
O
relatório se conclui com a idéia de que “o
setor judiciário brasileiro claramente está muito interessado na luta contra o
terrorismo, mas precisa de ferramentas e treinamento para empenhar forças
eficazmente. [...] Promotores e juízes especializados conduziram no Brasil os
casos mais significativos envolvendo corrupção de indivíduos de alto escalão ”.
Não admira que, durante estes últimos anos, a cooperação com os Estados Unidos,
e mesmo sem ela, tenha incrementado o conhecimento do Judiciário e do
Ministério Público acerca dos principais casos de corrupção no país.
Com tamanha rede de
investigação, é possível acreditar que o Judiciário e a Polícia Federal não
sabiam de nada no esquema da Petrobrás? Só descobriram agora? Parece
inverídico. O próprio desespero de Moro nesta quarta-feira em colocar sob
sigilo os mais de 300 nomes dos políticos envolvidos na delação da Odebrecht
sinaliza que ela poderia traçar o rastro para pistas que envolvam membros
proeminentes de outros poderes para além do Legislativo. Então, surge a
pergunta: quem vai investigar a PF? Quem vai julgar os juízes?
A
farsa das instituições democráticas
Seguramente
a responsabilidade pelo fortalecimento da direita e das instituições
autoritárias do Estado capitalista recaem sobre Lula, Dilma e o PT. Por outro
lado, as manobras de Sérgio Moro e encampadas pelo Supremo Tribunal Federal
representam a preparação de um “golpe institucional” deste Partido Judiciário,
e devem ser denunciadas contundentemente.
Os
juízes não são eleitos por ninguém. Pelo contrário, são escolhidos pelos donos
do poder. Como muito, são funcionários de carreiras cheias de filtros sociais,
para que seus cargos sejam ocupados só pela elite. Gozam dos mais altos
privilégios da “república dos ricos”, alguns deles vitalícios. E entretêm todo
tipo de laços com o imperialismo e as potências estrangeiras, que se encontram
documentadas em arquivos de Estado como este.
É
preciso questionar todos os privilégios do Poder Judiciário, exigir que cada
juiz seja eleito por sufrágio universal e seja revogável, perdendo suas verbas
de auxílio e exigindo que recebam o mesmo salário de uma professora. Nem o PT,
que fortaleceu esta instituição durante todos os seus governos, nem a direita
reacionária do PMDB e do PSDB, podem fazer isso. É necessário que a população,
em base a um movimento nacional contra os ajustes e a impunidade, impulsione
uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que imponha estas medidas, decidindo
a revogabilidade de todos os mandatos, que todos os funcionários do Estado
recebam o mesmo que uma professora, e que se revertam todos os acordos com o
capital estrangeiro.
Veja abaixo a primeira página do informe vazado, o link do arquivo
completo encontra-se no começo deste artigo.
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