O povo, sábio que ele só,
comunica-se, muito além
da mídia
FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO
Antes de tudo, para evitar as observações gratuitas, esclareço que não faço, com a ilustração acima, qualquer comparação entre Fernando Haddad e Leonel Brizola. Ao contrário, o personagem que interessa tratar aqui é outro: o povo. ||| E a história que vivi pessoalmente, desde o início, quando começamos a campanha de Leonel Brizola ao governo do Rio de Janeiro em 1982. Aos mais jovens, lembro que ele tinha, então, os famosos “2% no Ibope”. ||| Verdadeira ou falsas, as pesquisas não lhe davam um crescimento contínuo, linear. Foi num setembro como este que Brizola saltou do 4º lugar para a liderança. Ou, pelo menos, quando as pesquisas o admitiram. ||| Um mês, não mais que um mês, sem a TV, que a 'Lei Falcão' - da lavra do ministro da Justiça(?) de Geisel, Armando Falcão - proibia, sem cobertura dos jornais e tevês, sem as redes sociais que temos hoje. Nem celular havia, saibam os jovens. ||| Não tenho a menor dúvida de que – em escala, circunstâncias e tempos diferentes – o fenômeno se repetirá com Fernando Haddad. Não é o candidato, a campanha, a máquina partidária (até porque não a tínhamos em 1982) que farão com que o representante de Lula na urna vá dar esse salto. ||| É o processo social, o sentimento da população, a comunicação entre ela, a que se realiza em meio dela, que não é impressa, televisada e nem mesmo está, totalmente, nas “tretas” das redes sociais. ||| Não, essa comunicação – tão silenciosa que é quase muda no início – está apenas começando e em alguns dias vai ganhar as ruas, os botequins, as esquinas, as conversas de família. ||| Nós, da elite pretensiosa é que achamos que a “mídia” dirige tudo na formação da consciência popular. Não é assim. Ela faz muito neste sentido, sim, mas o mais importante no que faz é “dar a pauta” desta conversa. ||| E é neste sentido que a compreensão da campanha de Lula tem sido lúcida. Lula é e está sendo mantido como o centro da eleição, até porque é isso que importa, hoje, na luta política. É por isso que as demais candidaturas não se firmaram e dificilmente se firmarão. ||| É Lula ou “tanto faz” e todos os outros miram e buscam o terreno do “tanto faz” exceto, diga-se como registro, a inexpressiva e corajosa candidatura de Guilherme Boulos, que bloqueou o crescimento de uma impensável esquerda anti-Lula. ||| É nisso que falham as análises convencionais da comunicação política e foi isso que, de absoluta boa-fé (embora outros, nem tanto), fez alguns verem, meses atrás, a necessidade de um “Plano B”, ora encarnado em Ciro Gomes, ora em Jaques Wagner ou no próprio Haddad. ||| Não entenderam que não se tratava de escolher outro candidato, selecioná-lo por suas ideias, simpatia ou qualquer outro critério. Os únicos critérios que importam, de forma relevante, são a lealdade e a grandeza de ser humilde ao ponto de perder as vaidades, os voluntarismos, o orgulho por estar sendo o que jamais seria se não fosse o representante de Lula, a sua encarnação eleitoral. ||| Era entender que não importa qual fosse o nome ou o corpo que tomasse, seria Lula candidato se e quando a reação autoritária o impedir de ser. Luiz Roberto Barroso expressou isso: a ditadura judicial quer “outro candidato”, já, para ontem. Jamais Lula candidato como é. Ainda que tenha de sê-lo em corpo alheio.
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