Essência & Aparência do
governo Moro-Bolsonaro
ERON BEZERRA, no VERMELHO
Alguns ganham eleições travestidos do que nunca
foram e, às vezes, leva-se meses e até anos para se perceber a farsa de que se
foi vítima. O futuro governo Moro-Bolsonaro já antecipa e escancara suas elementares
contradições. ||| Embora estejam interligadas, como de resto estão todos os demais fenômenos
naturais e sociais, ‘Essência’ & ‘Aparência’ são categorias filosóficas
distintas. Enquanto a ‘essência’ representa o conteúdo real de um determinado
fenômeno, a ‘aparência’ expressa apenas a forma como tal fenômeno será
executado ou como eventual operador deseja que a sociedade assim perceba. ||| A ‘aparência’ do novo governo já se configura como expressão, não da ‘velha’, e
sim da ‘velhíssima política’, representada pelo mais odioso “toma lá dá cá”,
cujo simbolismo está materializado na indicação do juiz Sergio Moro para
Ministro da Justiça. ||| Mesmo quem ainda tenta questionar essa tese, na essência, sempre concordou com
os métodos e seu principal objetivo: tirar Lula da disputa eleitoral, facilitando o trabalho da direita ou extrema-direita,
como afinal aconteceu. ||| A declaração do próprio presidente eleito de que a atuação de Sergio Moro na ‘Lava
Jato’ garantiu, a ele, Bolsonaro, crescer politicamente, não deixa dúvida
quanto ao caráter parcial, seletivo, cuidadosamente medido, de cada uma das
investidas do juiz de primeira instância contra Lula. ||| Essa ‘velhíssima política’ é expressa pela retórica de fusão de ministérios sob
a demagógica promessa de redução de custos, quando se sabe que as atividades ministeriais seguirão seu fluxo
na organização do Estado brasileiro. Falar em ‘contenção de despesas’ é atar-se
a uma questão, na prática, artificial. Ademais, não há novidade. Collor fez a
mesma coisa: reduziu a máquina administrativa a 12 ministérios. E deu no que
deu, como todo sabemos, quase trinta anos atrás. ||| A fusão tanto é ‘aparência’ que Bolsonaro já declarou nada estar ainda
decidido. Agricultura e Meio Ambiente têm prioridades conflitantes, assim como ‘controle
orçamentário’(atribuição da Fazenda Pública) e ‘política de incentivos fiscais’(da
alçada do Ministério da Indústria e Comércio). Isso explica, por si só, a desfaçatez
da ideia, lançada apenas para despistar do debate central e iludir a população
com a falsa impressão da redução de custos da estrutura governamental, uma embolorada
conversa pra boi dormir.
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