quinta-feira, 1 de novembro de 2018


O virtual venceu a Eleição


ALEXANDRE TAMBELLI, no JORNAL/GGN

O que nos movimenta e orienta hoje está em uma pequena tela, onde, de cabeça baixa, olhamos o mundo para dentro, para dentro, para dentro, cada vez mais para dentro.  Ao nosso redor, outro infinito é dominado por quem inventou a pequena tela que nos absorve por inteiro e por completo.  O tamanho da tela nos absorve a tão pequeno espaço infinito, onde não cabe uma frase inteira, mas só microfrases e imagens, onde os detalhes precisam desaparecer, porque não cabem.   |||   A partir do smartphone, tudo virou preguiça mental, apequenando-se na manchete, onde a letra ainda é visível, no tweet, onde só as poucas palavras cabem na tela... E tudo virou a fotografia das poucas palavras, que não são a síntese do poeta ou do escritor de Literatura, que não são o Poetrix, o Haicai ou a Aldravia, mas, a reprodução do mundo querido por aqueles que inventaram a tela pequena que nos faz abaixar a cabeça ao do lado, a não ver o sol nascer nem as nuvens nem a chuva que cai nem a lua e as estrelas no céu.   |||   Antes, na tela grande, cabiam as frases, cabiam os dedos, a fonte legível, as ideias completas, a não-síntese, a possibilidade de pensar 'além', a possibilidade de ler sem a vista cansar, o mundo não era o instantâneo, que chega pronto e chega para pegar ou largar, e chega para aderir ou repelir.  Domingo(28 de outubro), venceu a tela pequena, o escuro de uma sala quase vazia e uma webcam, onde dela se traz ao ouvinte toda a 'verdade' do mundo, ou, quem sabe, um simples click no áudio do ZAP a nos proteger da "mentira" ou nos informar tudo sem precisar as coisas, precisando apenas clicar.   |||   A webcam, o meme, o tweet venceram a realidade e nos legaram um Presidente que não precisa fazer comício, que não precisa juntar gente, tocar, cativar, precisa apenas associar-se à tela pequena e às suas ondas, as propostas de mundo dos que a criaram, a nossa individualidade, a meritocracia dos tempos solitários, dos homens-só.   |||  Transeuntes do rosto caído, da melancolia do namoro(ao candidato) que começa e termina em um click (like e dislike), do voto que começa e termina em um click, que dura até a próxima 'onda', até outro 'programado' substituir o que nos levou até ali e nos levará além dali para não sabemos onde.  O virtual venceu a eleição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário