O ‘sem-noção’ voltou
FERNANDO BRITO, no TIJOLAÇO
Estava
demorando. Depois de uma semana
desmentindo as bobagens de seus auxiliares – e a suas próprias -, o presidente
eleito Jair Bolsonaro encarregou-se ontem de dar um piparote nos “reis do
pensamento positivo” que já proclamavam que ele estava se adequando às regras
do jogo político (e constitucional). ||| E,
numa única “live” de Facebook conseguiu produzir uma enxurrada de idiotices capaz
de devolver a euforia à legião de selvagens que reuniu nas redes e fazer cair no
ridículo todas aquelas juras de que seria “escravo” da Constituição. ||| Bolsonaro garantirá um “arrastão de 500 metros” a Sérgio Moro para
que o(ex-)juiz possa “pescar”
corruptos, sugerindo a transformação do Ministério da Justiça em órgão de
investigação.E ameaçou: "Sergio
Moro vai pegar vocês. Abram o olho!”. E insinuou
que vai acabar com a política de preservação ambiental, entregando a privados o
controle de áreas de proteção e de reservas naturais. ||| Disse,
claramente, pretender instituir(não se sabe como) um ‘regime de trabalho’ fora
da legislação trabalhista, mesmo a já modificada com a reforma. Antes, confirmara
a previsível extinção do Ministério do Trabalho – já moribundo sob Temer – sem
indicar quem assumiria a tarefa de exercer a fiscalização das relações de
trabalho, algo a ser jogado, literalmente, no porão. ||| Aliás,
em matéria de reforma, emite, quanto à previdenciária, sinais de fraqueza, com a estratégia do “façam
o que der agora” – sem dizer claramente
o quê – porque ‘não sei se’ e ‘quando’ poderei fazer no meu governo”. E,
como cereja do bolo do besteirol, avisou que quer “ver antes” as provas do
Enem, para evitar perguntas que, do seu ponto de vista, sejam “imorais”, como
se, pela regras do exame, dispusesse de poderes para tanto. ||| Jair
Bolsonaro é, antes de tudo, um homem tosco, que não consegue achar um
meio-termo entre o ‘bravateiro’ da campanha e o ‘mudo’ dos primeiros dias da
transição. Está deixando claro, antes mesmo da posse, que não vai liderar o
governo, mas fatiá-lo entre aventureiros, dos quais no máximo “cortará as
asinhas” quando passarem dos limites. ||| Resta
saber quem lhe cortará as próprias asas quando externar opiniões estapafúrdias. O que fez ontem – e ainda fará várias vezes –
foi retomar o “Bolsonaro da campanha”, já que não demonstra o menor talento
para ser o “Bolsonaro do Governo”. ||| Os
profissionais do assunto, que aderem e abocanham governos há décadas no Brasil,
já dão sinais de que não querem, ao menos por agora, ficar muito próximos do
ex-capitão. Sinal de que, adiante, com seus fiascos, querem dele muito mais do
que aquilo que hoje, pode entregar.
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