Moro e o
Estado policial
JEFERSON MIOLA, no JORNAL/GGN
Sérgio
Moro, agora ex-juiz, embora ao arrepio da lei, por responder a processo disciplinar
no Conselho Nacional de Justiça, não é
um déspota por acidente. Sua forma de agir, como autoridade dotada de poderes
ilimitados que despreza a ordem constitucional e legal vigente, foi sendo
legitimada e banalizada por um judiciário de exceção, permissivo com a
transmutação do juiz provinciano(de primeira instância) em agente político e
celebridade influente da cena brasileira. Os tribunais
superiores e o CNJ fecharam os olhos para os arbítrios e ilegalidades cometidas
por ele e outros agentes da ‘Lava Jato’ que pretextam o combate à corrupção
para perseguir e aniquilar inimigos. ||| No livro
“Estado de exceção: a forma jurídica do neoliberalismo”, Rafael Valim sustenta
que os estados de exceção irrompem do antagonismo entre o neoliberalismo e a
ordem democrática. E conclui que, “em
última análise, o estado de exceção é uma exigência do atual modelo de
dominação neoliberal”, e “o
soberano na contemporaneidade é o mercado”. ||| Para atender
aos interesses do mercado, “a
fim de preservar a realidade vigente, o Estado empreende uma guerra incessante
contra um inimigo virtual, constantemente redefinido, do qual se retira, em
alguns casos, a própria condição de pessoa, reduzindo-o a um outro genérico,
total, irreal. Em síntese, o mercado define os inimigos e o
Estado os combate”. ||| Na opinião de
Valim, “o principal e
mais perigoso agente da exceção no brasil é o poder judiciário”. Seria
pertinente dizer que Sérgio Moro é o principal agente da exceção, ao passo que
Lula é o inimigo definido pelo mercado para que o Estado o combata [ou o
assassine]. A nomeação do
Moro como ministro do Bolsonaro avaliza a narrativa de que a ‘Lava Jato’ foi
instrumentalizada para banir Lula da eleição presidencial e viabilizar a
vitória do antipetismo, como afinal ocorreu. ||| A historiadora
francesa Maud Chirio arrisca que “no
dia 3 de janeiro de 2019, o MST e o MTST serão declarados organizações
terroristas. No começo de fevereiro, o PT vai ser interditado. Haverá um
expurgo na administração pública, que já está em preparação”, segundo a
Folha de S. Paulo do dia 4 do corrente, jornal agora enxovalhado
pela sempçre furibunda ‘família Bolsonaro’. A previsão de
Chirio, embora, à primeira vista, pareça um exagero, não pode ser menosprezada,
pois alerta para o risco, bastante real, de introdução do terror de Estado pelo
regime bolsonarista, senão em 3 de
janeiro, possivelmente no período sombrio que sua eleição inaugura. ||| Quando
‘político’ ainda de toga em Curitiba, Moro subverteu o Estado de Direito com a
adoção do ‘direito penal do inimigo’ e de medidas ilegais e arbitrárias, como a
condução coercitiva sem recusa do acusado em depor espontaneamente; a delação
premiada, como método de tortura psicológica, e chantagem dos denunciados; o
cumprimento antecipado de pena; a destruição midiática de reputações etc. ||| Não
surpreenderá que, como superministro da Justiça e Segurança Pública, com excepcional
autoridade administrativa e poder discricionário, o despótico Moro implante
dispositivos de perseguição, repressão, controle, espionagem e intimidação dos que
considere inimigos e oponentes do regime,
na perspectiva do Estado policial. Não por acaso
os primeiros escolhidos para sua equipe ministerial são aqueles mesmos agentes
da Polícia Federal e do Ministério Público’ mais organicamente identificados
com práticas de exceção e com o extremismo de direita. ||| Muito se especula sobre supostos vínculos do
Moro com agências do governo norte-americano que atuam justamente nas áreas por
ele anunciadas como prioritárias na sua gestão: “uma forte agenda anticorrupção
e anticrime organizado”. Em
breve esse discurso do “combate ao crime organizado e à
corrupção” será substituído pela retórica de “combate ao inimigo
interno” e aos “terroristas” que se opõem ao regime, ou
seja, o conjunto da cidadania, em especial os movimentos
sociais, intelectuais, ativistas e militantes progressistas e de esquerda. ||| O
endurecimento autoritário do regime é, aliás, um requerimento para que o establishment consiga
impor a selvagem agenda antipovo, antinação e antidemocracia dos Chicago Boys neoliberais e
dos cônsules dos EUA que pretendem fazer do Brasil uma terra arrasada e
dominada por interesses genuinamente transnacionais.
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