Nem
em seus piores pesadelos o capitão Jair Bolsonaro, sem favor algum o mais
despreparado dos candidatos à presidência que já se apresentaram nestes 128
anos deRepública,
podia imaginar: o economista Paulo Guedes, o homem cotado para ocupar o
Ministério da Fazenda, foi tiete de Lula e do PT. |||Também
conhecido como “Posto Ipiranga”, por ter entre suas atribuições na atual
campanha eleitoralsuprir
a ignorância desumana do candidato do PSL acerca dosassuntos
de economia, Guedes expressou suas simpatias e expectativas positivas diante do
petismo no poder, logo no início do primeiro mandato de Lula. |||A
simpatia e o moderado otimismo com as perspectivas abertas pela chegada do
petismo ao poder, estão expressos num artigo assinado por Guedes, em sua coluna
na revista Exame, na edição do dia 12 de fevereiro de 2003. |||Nele,
o sugestivo título de “Há governo e não sou contra”, era complementado pelo
subtítulo: “As críticas à política econômica do PT vêm de radicais e
ressentidos”. Um
tom desafiador, sem dúvida, raro de se encontrar numa publicação de negócios da
grande imprensa, da primeira à última linha. |||“Até
o momento, Lula e seu alto comando exibiram enorme competência na ocupação do
governo e na construção das pontes para a aprovação das reformas no Congresso”,
afirmava Guedes, na abertura do artigo.“A
firmeza da área econômica em defesa da austeridade fiscal, da metas
inflacionárias e da flexibilidade cambial, colocou a crise em “câmara lenta”,
enquanto se acelera a montagem da operação política de resgate das reformas
previdenciária, tributária e trabalhista.” |||Em
seguida, tratou de qualificar eidentificar
as resistências a esses primeiros movimentos. “A quase totalidade das críticas
ao novo governo é de baixa qualidade”, escreveu. Em
primeiro lugar, ele apontou entre os críticos para setores do PT. “Uma parte
vem de áreas de baixa ventilação intelectual, no interior do próprio PT”,
disse. “A tradicional ignorância da esquerda em matéria econômica fermentou a
intolerância com que vem sendo fustigado o talentoso ministro Antônio Palocci.”|||Além
de Palocci, por sinal, não faltam referências a figuras como José Dirceu e José
Genoino, que Guedes considerava verdadeiros sustentáculos dessa política.“O
apoio e articulação suprapartidária (José Dirceu), além da disciplina
partidária para garantir a ‘unidade parlamentar’ (José Genoino) serão
indispensáveis à sobrevivência de Palocci e ao bom andamento do governo Lula”. |||A metralhadora giratória de Paulo Guedes não deixou de mirar para o que chamou de “tucanos
ressentidos”, recém apeados do poder com a derrota de José Serra, principais
críticos externos ao PT. “Refletem
o desespero político ante a súbita modernização do PT”, afirmou. “São
patéticas, pois ao grupo de viúvas de FHC e de José Serra, após dois anos no
comando da área econômica(NR: no governo Itamar Franco)e oito anos de
mandatos presidenciais, um pouco de silêncio cairia bem.”|||E
prosseguia na malhação ao PSDB, referindo-se às mazelas que Lula batizou de 'herança maldita', recomendando-lhes“uma
quarentena em memória da inapetência pelas reformas estruturais, dos
formidáveis equívocos financeiros e da herança de endividamentoem
torno de 60%do
PIB, apesar da elevação da carga tributária para 36% do PIB”.|||A
metade seguinte do texto é dedicada à uma avaliação positivado
que batizou de conversão intelectual de Lula & Companhia em plena campanha
eleitoral, provavelmente referindo-se à “Carta ao Povo Brasileiro”, lançada
pelo PT em junho de 2002 para reduzir as turbulências no mercado financeiro e
garantir o respeito aos compromissos e contratos em caso de vitória nas
eleições presidenciais daquele ano. |||“A
modernização da cúpula do PT foi mais breve (meses), que a dos tucanos
(décadas), e saiu mais barata para o país. A social democracia de punhos de
renda, então incubada no PMDB(NR: Guedes se refere às correntes que depois
fundaram o PSDB e militavam no partido de Ulysses Guimarães)e em conhecidas
universidades do Rio de Janeiro e de Campinas, patrocinou congelamento de
preços, déficits fiscais, descontrole monetário, populismo cambial, moratória
externa. Sabemos que eram então protecionistas e contra as privatizações.”|||Segundo Guedes, o verdadeiro teste do acerto da política econômica do governo Lula, não
viria nem dos críticos internos do PT, nem dos tucanos ressentidos. Tampouco
da direita (alô, alô, Bolsonaro!!!). “Também não virá de uma oposição à direita,
pois esta sucumbiu eleitoralmente, em associação com o autoritarismo antes e a
fisiologia agora”, afirma. |||O
julgamento final, na ótica de Paulo Guedes, seria definido por expectativas quanto ao
regime fiscal futuro e à capacidade de pagamento da dívida, num quadro de
agravamento do ambiente macroeconômico externo.“Aí
será possível perceber se as manobras e políticas do governo Lula são um
simples jogo de espelhosou
um sinal confirmando a consolidação da Grande Sociedade Aberta em terra
brasileira.”|||Será
que dá paraBolsonaro
dormir tranquilo? Ou vai ter de trocar de 'Posto Ipiranga'?
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