As mentiras mais escandalosas
de Jair Bolsonaro no Roda Viva’
Enquanto assista ao programa Roda Viva
com Jair Bolsonaro na noite dessa última segunda-feira (30/7), o historiador
Abdala Farah Netto reagiu da seguinte maneira aos comentários do
presidenciável:
“É triste e desanimador, como
Professor de História, ouvir Jair Bolsonaro, candidato à Presidência do Brasil,
falando tantas aberrações, desonestidades e mentiras sobre temas como
Escravidão Africana, Ditadura Civil-Militar, Direitos Humanos. O roteiro do
Bolsonaro é sempre o mesmo: o mundo é de Esquerda! Todos comunistas! Só o Trump
salva!”
A entrevista do candidato teve grande
repercussão nas redes sociais e bateu o recorde de audiência do Roda Viva. Na
prática, porém, isto não representa automaticamente que Bolsonaro saiu maior da
sabatina do que entrou, já que suas respostas foram marcadas por imprecisões e
até mentiras. Confira:
VICE DE AÉCIO. No Roda Viva,
Bolsonaro negou que tenha se oferecido para ser candidato a vice-presidente de
Aécio Neves (PSDB) em 2014. “Eu nunca disse que queria ser vice de Aécio”, cravou
o deputado.
Em uma entrevista exclusiva(AQUI) concedida
em site Infomoney em 2014, Bolsonaro afirmou: “O Eduardo Campos
está um pouco tímido em suas propostas e estratégias enquanto o Aécio Neves já
se mostra muito mais simpático e agressivo. Eu sou uma oposição muito melhor
que qualquer um dos dois, mas, se eu não for candidato, simpatizo muito mais
com o Aécio, que é o representante da direita atualmente. Se eu não conseguir
me candidatar, quero ser vice de Aécio Neves. Claro, nada disso nunca entrou em
pauta e nunca ninguém falou sobre isso, mas seria uma grande honra para mim”.
Em outra entrevista(AQUI) ao
jornal O Globo, Bolsonaro também externou seu apoio a Aécio: “Mesmo
que ele não queira, voto no Aécio Neves. O grande mal do Brasil hoje é o PT. Se
Dilma conseguir a reeleição, não fugiremos de uma ida para Cuba sem escala na
Venezuela. É um governo que se preocupa em caluniar as Forças Armadas 24 horas
por dia”.
No Youtube, Bolsonaro divulgou um vídeo
em 2014 em homenagem ao tucano: “Deus salve o Brasil no dia 26 de outubro,
votando em Aécio Neves para presidente”.
NEGROS SÃO CULPADOS PELA
ESCRAVIDÃO. Ao responder um questionamento sobre cotas e a dívida
histórica que temos com os negros, Bolsonaro afirmou: “Que dívida? Eu não
escravizei ninguém. Os portugueses nem pisavam na África. Os próprios negros
que entregavam os escravos. Os portugueses não caçavam os negros”.
Nenhuma dessas afirmações de Bolsonaro
tem qualquer amparo nos fatos porque, segundo a historiografia do Brasil e de
Portugal, portugueses não só escravizaram africanos como também colonizaram,
ocuparam e exploraram economicamente a região.
O primeiro estabelecimento dos
portugueses na África aconteceu em 1415, em Ceuta, hoje território espanhol. Em
1460, chegaram a Cabo Verde. A partir daí, foram traçadas estratégias de
ocupação territorial, evangelização e exploração de recursos naturais. Segundo
o livro “História(AQUI) do
Colonialismo Português em África“, de Pedro R. Almeida, até a
independência do Brasil, os territórios portugueses na África eram
essencialmente voltados ao fornecimento de mão de obra escrava ao Brasil. Há
estimativas diversas, mas os números dão conta de que em torno de 5 milhões de
escravos africanos foram trazidos ao Brasil entre os séculos 16 e 19.
Craque na política das fake news,
Bolsonaro esqueceu de explicar, por exemplo, que a escravidão já estava
presente na Europa. Desde a Antiguidade, o continente conheceu diversas formas
de escravidão, mas menos intensas ou disseminadas do que aquela que surgiria a
partir do século 16. A escravidão mercantil.
500 PROJETOS APRESENTADOS. No Roda
Viva, Bolsonaro disse que tinha cerca de 500 projetos apresentados durante
esses 28 anos que ocupa uma vaga na Câmara dos Deputados. Na verdade, segundo o site da Câmara, Bolsonaro é
autor de 172 proposições. Apenas duas, no entanto, foram aprovadas.
TORTURADOR BRILHANTE USTRA. “Ninguém
poderá ser declarado culpado sem uma sentença transitada em julgado. E isso não
aconteceu no caso do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”, disse
Bolsonaro no Roda Viva. Ao falar de trânsito em julgado, Bolsonaro
provavelmente se refere ao determinado pelo artigo 5°, inciso LVII, da
Constituição Federal: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”. É a chamada presunção de inocência. No
caso do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi condenado em
primeira instância em agosto de 2012 por praticar torturas no período do regime
militar. O processo chegou a tramitar na segunda instância, na 9ª Vara Criminal
da Seção Judiciária de São Paulo, mas foi suspenso provisoriamente pela
ministra Rosa Weber em 2015 e, em seguida, foi extinta a punibilidade de Ustra
em função da morte do réu durante o processo.
CAÇA AO LAMARCA. No Roda Viva,
Bolsonaro disse que participou da luta armada no Vale da Ribeira (SP), na “caça
ao Lamarca”. Só se foi como adolescente. Carlos Lamarca, capitão que deixou
o Exército para aderir à guerrilha, foi morto em 1971, na Bahia, quando o hoje
deputado tinha 16 anos.
No fim da entrevista, o
jornalista Marcelo Rubens Paiva, que teve o pai assassinado pela ditadura militar,
assinalou: “Cheguei à conclusão que Jair Bolsonaro não é de extrema-direita,
mas de extrema-burrice”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário