A ida do PCdoB para Maia e o futuro do campo
progressista
RENATO ROVAI, na REVISTA FÓRUM
O
PCdoB anunciou ontem seu alinhamento à candidatura de Rodrigo Maia juntando-se
ao PDT de Ciro Gomes e deixando PT, PSB e PSoL numa posição mais frágil em
relação a um braço de ferro que poderia ser realizado com a direita
programática, do tipo DEM, que defende todas as privatizações e reformas, e a
extrema direita oportunista e enlouquecida, representada por Bolsonaro, seu PSL
e agregados. ||| A decisão do PCdoB não surpreende, muito pelo contrário.
Desde o ano passado o partido está dividido em relação à sua análise de
conjuntura e as decisões a serem tomadas. O apoio a Haddad foi fechado numa
reunião altamente dividida e o atual líder da bancada na Câmara, Orlando Silva,
foi embora antes de a decisão ser anunciada. Ele defendia o apoio a Ciro, mas se isso não se concretizasse preferia manter a
candidatura de Manuela do que se juntar ao PT. ||| A análise de Orlando e da nova geração do PCdoB é a
de que o partido não pode ser mais linha auxiliar do PT que é extremamente
hegemonista. Orlando também tem grande proximidade pessoal com Rodrigo Maia e
já foi um dos seus articuladores na primeira tentativa à presidência da Câmara. ||| O racha do PCdoB foi explicitado num artigo duro,
com destinatário claro, publicado por José Reinaldo Carvalho em vários sites.
Carvalho é dirigente comunista histórico. E muito respeitado dentro e fora do
partido. O título do seu artigo era “Esquerda
com Maia, uma aliança extravagante”. ||| Entre outras coisas, Carvalho escreveu: “O
cenário dos últimos dias mostra que estão em curso intensos entendimentos e
pressões para que a esquerda ou pelo menos parte desta apoie a reeleição de
Maia. Será extravagante a formação de um bloco de forças que tenha por vértice
no parlamento um presidente da Câmara comprometido com a estabilidade e o êxito
do governo de extrema direita”. ||| E ainda disse que quando se iniciou a pressão para
que o campo progressista apoiasse Maia, o discurso era de que isso era
importante para derrotar Bolsonaro. Mas que depois que o demista fechou com o
PSL, o discurso mudou, como se nada tivesse sido dito antes. Antes do PCdoB, o PDT já tinha aderido a Maia com o PSL e com tudo. No PT, vários deputados também defendem a mesma
linha de Orlando Silva. Consideram que o maior erro é o isolamento. ||| Uma nota de
ontem na coluna de Lauro Jardim registrou que Maia tem mais votos que Gleisi
Hoffmann, presidenta do partido que é contra o apoio a Maia. Não é reportagem e muito menos trabalho sério. É típico folclore do jornalismo
de notas. O blogueiro apurou com várias fontes que hoje na bancada do PT, no
limite, 1/3 defendem Maia. ||| Não é apenas Gleisi Hoffmann que está nesta posição
de que se deve buscar uma alternativa a chapa Maia-Bolsonaro, mas também o
líder da bancada, Paulo Pimenta. Além disso, quase a totalidade das lideranças
populares da base do partido e dos dirigentes tem posição semelhante a de
Gleisi e Pimenta. Definitivamente eles não são minoria ou estão isolados. Em 'off', um deputado petista disse ao ‘Blog do Rovai’ que isso é tão verdadeiro
que mesmo quem defende Maia tem medo de se expor pelo alto custo político que
isso pode implicar. ||| Mas qual o motivo deste racha e o que ele pode
implicar? Há muitas análises na praça hoje sobre o que será o governo Bolsonaro
e por isso há muitas táticas e estratégias à disposição. Uma delas é a de que o
governo Bolsonaro vai fazer água rapidamente e que por isso o presidente da
Câmara tem que ser alguém com traquejo político capaz de superar isso de forma
institucional. Ciro tem apostado nisso. ||| Há uma outra que considera que o governo Bolsonaro
tem mais fôlego e que as reformas e perseguições só serão impedidas com pressão
popular e rua. A maior parte do PT, PSoL e movimentos sociais aposta nisso. Há ainda uma terceira percepção, que seria a de
alguns líderes do PCdoB de que Bolsonaro vai instalar o governo do fim do mundo
para o campo popular e as esquerdas. E que por isso não o campo progressista
tem que fazer alianças à direita e ao centro. Por isso à opção Rodrigo Maia
seria o sapo da vez. Ontem, no seu artigo escrito para defender o apoio ao
demista, Orlando lembro de Guimarães Rosa: “o
sapo não pula por boniteza, mas por precisão”. ||| O fato concreto é que no atual momento essas
diferentes visões da conjuntura levaram a um racha. Ele ainda não é tão
significativo. A situação política pode fazer com que o campo progressista se
aglutine de novo. Mas é algo para ficar atento. O que de pior pode acontecer
neste momento é apostar que a divisão do que restou da esquerda e da centro
esquerda pode nos levar a um destino melhor.
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