Brumadinho e
o surreal desprezo de Bolsonaro, capacho de Israel, pela tecnologia militar brasileira
LUÍS NASSIF, no JORNAL/GGN
No desastre de Brumadinho, o inacreditável presidente da República, Jair
Bolsonaro, o que bate continência até para assessor de governo norte-americano,
esqueceu totalmente do papel das Forças Armadas brasileiras nos trabalhos.
Preferiu tornar-se garoto-propaganda da tecnologia israelense. Aliás, a
afoiteza com que seu filho Flávio e o governador eleito do Rio de Janeiro,
Wilson Witzel, anunciaram a ida a Israel para comprar equipamentos de
segurança, mal terminadas as eleições, pode ser um indicativo dessa paixão
incontida. ||| O
Brasil tem uma ampla experiência em defesa civil, aprimorada nas inundações de
Santa Catarina e de São Paulo, e na tragédia de Teresópolis. E tem tecnologia
militar. As Forças Armadas brasileiras estavam disponíveis. Mas ficaram sem
função porque Bolsonaro transferiu para o governador mineiro Romeu Zema acionar
ou não sua ajuda. E Zema é um completo jejuno como administrador público. Todas
as loas foram prestadas às Forças Armadas de Israel. ||| Aprendi a admirar a tecnologia
militar ainda nos anos 80, quando teve início o programa da Marinha de
enriquecimento de urânio. O governo Ernesto Geisel tinha embarcado na
conversa do Acordo Nuclear com a Alemanha. Por ele, caberia ao Brasil financiar
inteiramente um processo experimental de enriquecimento de urânio, o jett nozzle. O sistema ainda não tinha
comprovação de viabilidade comercial e jamais viria a ter. ||| Quando se percebeu sua
inviabilidade, houve uma forte disputa entre diversos setores, pela paternidade
do seu sucessor. Os físicos da USP, liderados por José Goldenberg, faziam
ataques ferozes ao Acordo Nuclear, através da SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência). E ofereciam a alternativa da água pesada, adotada pela
Argentina. A Aeronáutica defendia o enriquecimento através de um sistema de
laser. ||| Coube
à Marinha apresentar a alternativa vitoriosa, o do enriquecimento através das
ultra centrífugas. Na época, regime militar ainda, começou a ser montada
uma cadeia de fornecedores de tecnologia militar, desde aços finos até
armamentos, períodos em que se sobressaiu a incrível Avibras e as fábricas de
blindados. Durante décadas, contando sempre com recursos orçamentários
escassos, a Marinha logrou desenvolver uma tecnologia avançadíssima e penetrou
no universo fechado dos fornecedores de urânio enriquecido. Talvez tenha sido o
maior feito tecnológico brasileiro. Mas a tecnologia militar não parou
aí. ||| Ainda no
início dos anos 80, o grande Bernardo Kucinsky escreveu uma série de
reportagens para The Guardian, sobre a possível venda de
plutônio brasileiro ao Iraque. O Paulo Andreolli, jovem repórter do Estadão,
foi atrás das dicas e publicou reportagens sobre o tema, descrevendo aviões
saindo de São José dos Campos para o Iraque. ||| Na época, o Estadão já
atravessava uma de suas crises cíclicas e estava com redação bastante
depauperada. Pouco antes, havia sido motivo de galhofa geral com o episódio da
“porca assassina”. Um ilustre diretor da sucursal de Brasilia estava no
gabinete do Ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, quando um projétil
arrebentou a vidraça. O caso foi tratado como atentado terrorista. Logo
depois, a sessão de necrológio do jornal, editada pelo inesquecível Toninho Boa
Morte, publicou uma enorme elegia à morte de um cavalo, do Jockey, enaltecendo
seus nobres sentimentos. |||
Os concorrentes, especialmente a Folha e a Veja,
não perdoaram. Quando saiu a reportagem do plutônio, a reação foi igual:
Veja e Folha caíram matando. E o Estadão ficou na defensiva. Na época, eu
era pauteiro e chefe de reportagem da Economia do Jornal da Tarde. Por coincidência,
um pouco antes a revista Nova me pediu uma reportagem especial sobre o acordo
atômico. Sem Google, escarafunchei o Departamento de Pesquisa do jornal,
levantei xerox de umas duzentas reportagens e ganhei um
conhecimento razoável – jornalisticamente falando – da terminologia técnica do
tema. Eram nítidos os erros técnicos cometidos pelos dois veículos,
particularmente do jovem e agressivo repórter da Folha de nome José Nêumane
Pinto(hoje um 'bolsonarista', inimigo visceral do PT, de longa data),
nas críticas ao Estadão. |||
Falei para o Ruizito Mesquita conversar com seu tio, Júlio. Disse-lhe que, com
uma reportagem só, mataria as críticas. Deram-me uma página de jornal. Antes de
sair, o artigo foi revisto pelo próprio Goldenberg. Nas conversas com ele,
percebi as disputas não explícitas sobre o acordo nucelar, das quais a SBPC era
um biombo. O artigo acabou com a controvérsia, explicitando os erros técnicos
grosseiros contidos nas críticas ao Estadão.
Rex Nazareth, tecnólogo militar
Dei essa
imensa volta para chegar a Rex Nazareth. Das duas centenas de reportagens que
li, as únicas substanciosas, mesmo, eram entrevistas com Rex Nazareth, físico
da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), dadas a um suplemento da Folha.
O restante era um amontoado de críticas genéricas ao Acordo Nuclear, das quais
não se extraía uma informação técnica relevante. ||| Em 2003, me deu curiosidade de
conhece-lo. Ele estava, então, na direção do Instituto Militar de Engenharia.
Fui até a Praia Vermelha conhecê-lo e ao IME e, lá, me espantei com as
pesquisas que comandava, de tecnologia aplicada.
Duas delas me chamaram a atenção. Uma, a construção de protótipos de drones, muito antes da febre de drones explodir. A outra, sensores que, colocados nas águas ou em terra, conseguiam identificar qualquer movimento não natural, como a de um túnel sendo escavado ou, no caso dos rios, até embarcações a remo se aproximando. Seria a tecnologia adequada para os trabalhos em Brumadinho. ||| O grande Rex, já idoso, me perguntava de que maneira poderia fazer aquelas descobertas chegarem ao Ministério da Justiça. Seriam ferramentas ideais para prevenir fugas de presídios, tráficos de droga nas fronteiras. Nunca soube de seu uso pelo poder público. ||| Nos anos seguintes, dentro do Projeto Brasil e do Brasilianas, montei vários seminários para discutir tecnologia militar, muitos deles abrilhantados pela competência e raciocínio cartesiano do Almirante Alan Arthou, um dos responsáveis pelo programa nuclear da Marinha.
As Forças Armadas dispõem de três centros relevantes de tecnologia, um para cada arma. Tinham parcerias relevantes com as universidades, com o ITA, no caso da Marinha, com o IPT, através do IPEN (Instituto de Pesquisas Nucleares), no caso do Exército. Esse trabalho me conferiu algumas comendas militares, todas de associações de engenheiros das três forças. ||| Por tudo isso, não entendi esse incrível espetáculo de subserviência, de um presidente do baixo clero militar, que se encantou com Israel por razões fundamentalistas, levantou a bola da tecnologia israelense e, em nenhum momento, mencionou a estrutura que as Forças Armadas brasileiras poderiam oferecer para o caso de Brumadinho. E estando cercado por militares da reserva. ||| A engenharia militar participou dos maiores feitos econômicos e tecnológicos nacionais. Foi essencial na implantação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), na criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), na montagem da infraestrutura nacional em transportes, comunicações, indústria de base, nas grandes estatais (Embratel, Telebrás, Petrobras). Participou da implantação do padrão Pal-M para a TV a cores no Brasil; além dos produtos tipicamente militares, como radares, blindados, armamentos. ||| É inacreditável que o espírito anti nacional, de subserviência que marca o grupo de Bolsonaro, tenha feito menosprezar até a tecnologia militar, do seu mais influente avalista.
A FAB possui aviões com a tecnologia
A tal dita "tecnologia israelense" é na verdade americana - o Foward Looking Infrared (FLIR). Existem aeronaves do Exército Brasileiro e de algumas policias militares, como a do Rio de Janeiro, que possuem essa capacidade embarcada. É impressionante como aproximações ideológicas são justificadas por "fatos alternativos" neste governo. ||| Uma breve pesquisa indicará o seguinte: Os aviões brasileiro EMB-145 e EMB-314 Super Tucano, da Embraer, já são construídos com esses sistemas. O EMB-145 é utilizado para sensoreamento remoto da Amazônia. O EMB-315 Super Tucano para tarefas de interceptação e vigilância para o projeto SIVAM. ||| Os primeiros dispositivos subiram na década de 60, nos Estados Unidos, “derivados dos sensores de rastreamento e detecção de infravermelho utilizados nos mísseis ar-ar, visando permitir a observação e o ataque de alvos inimigos encobertos pela escuridão, pela fumaça ou pela selva”. A estreia foi na Guerra do Vietnã. Hoje em dia é uma tecnologia de uso extensivo na aviação, utilizado em forças militares e civis.
Equipamentos israelenses: inúteis em Brumadinho
Agora, vem a informação(AQUI) de que o equipamento de Israel tem uma tecnologia para identificar o calor que emana dos corpos. Ou seja, é boa para caçar terroristas vivos do Hamas, não para localizar cadáveres embaixo da lama. É um mico bolsonariano atrás do outro.
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